quinta-feira, maio 26, 2016

O valor de um rival

Não por acaso, resolvi torcer por um time chamado Sport - que na verdade deveria ser conhecido como Recife, já que seu nome é Sport Club do Recife. Minha paixão pelo esporte, com dois "Es", é antiga.

Semprei adorei esportes. No colégio, pratiquei atletismo, depois judô e basquete. Mas jogava tudo: handebol, futebol de salão, futebol de campo, vôlei de quadra, vôlei de areia. Na faculdade, fiz futsal. E sempre nas peladas de futebol, basquete. E nos campeonatos da firma. E acompanhava (e acompanho) a maioria das modalidades pela tevê. Ainda tenho meus álbuns de figurinhas da Copa do Mundo de 1982, da Copa União, da NBA. E minhas revistas das Olimpíadas, de futebol, de automobilismo.

Do basquete da NBA, na qual torço pelo Los Angeles Lakers desde os anos 1980, tive talvez a principal lição: aprender a respeitar os adversários, celebrar os ídolos rivais, sentir prazer de assistir a partidas de times contrários.

Talvez por isso, mesmo rubro-negro pernambucano, tenha tanta admiração pela atual fase do Santa Cruz e seu maior ídolo do momento: o paulista, de Jundiaí, Edinaldo Batista Libânio, Grafite, 37 anos. Dois exemplos de superação.

Se houvesse Série E, ou quinta divisão, certamente o Santinha teria estado lá. Em uma década, saiu da Série A do Campeonato Brasileiro para a Série D e voltou. Em três rodadas, já é o líder isolado do Brasileirão com direito a duas goleadas. Seis gols de Grafite (o artilheiro do ano anterior, Ricardo Oliveira, do Santos, marcou 20 gols em 18 rodadas).

Entre os vários times dos quais vestiu a camisa, Grafite foi campeão paulista, da Libertadores e mundial pelo São Paulo, em 2005. Agora em 2016 foi campeão pernambucano e do Nordeste pelo Santinha. Mas lembro bem da passagem do jogador pelo Wolfsburg, pelo qual foi campeão alemão, em 2009, com 28 gols. Vi algumas partidas. Sempre achei que ele merecia uma chance melhor na seleção brasileira, assim como Rogério Ceni, outro injustiçado.

Justiça, aliás, não costuma andar muito de mãos dadas com o futebol, com o esporte. Em 2015, vale lembrar, os dois únicos clubes brasileiros na Série A fora das Regiões Sul e Sudeste foram Sport e Goiás. Ser negro, veterano e jogador de um time dito periférico e brilhar como brilha Grafite, junto com seu Santinha, exige o máximo de coragem, dedicação e amor.

Reconhecer o valor de Grafite, e do Santa Cruz, é, acima de tudo, um ato político. E de amor ao esporte. Sejamos eu, ele ou você de que time for.

Recife, 26 de maio de 2016

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