quinta-feira, maio 26, 2016

A primeira e a última (?) vez

A maioria de meus amigos mais próximos sabe por que eu decidi estudar jornalismo: lá por volta de 1987, 1988, o cinema me pegou de jeito e, menos de cinco anos depois, eu queria fazer cinema. Se houvesse o curso que há hoje na UFPE, certamente seria pra lá que eu iria. Também não havia condições de eu ir estudar fora - na verdade, nem na Unicap, a única particular da época. Prestei vestibular pra UFPE e passei. Era o primeiro passo.

Após alguns estágios, prestação de serviço, adiamento de projeto experimental e outros desvios pelo caminho, voltei a ser estagiário, no Caderno C do Jornal do Commercio. Já havia desistido de jornal, não era meu foco, quando a vida me preparou uma de suas inúmeras surpresas e me colocou lá. Por
mais um capricho, no Caderno C - que já havia preenchido a vaga, só que não.

Cheguei no C temporão, em 1998, mas com muita, muita coisa para aprender. E ali estavam todos: Marco Polo, Marcelo Pereira, Flávia de Gusmão, João Luiz Vieira, José Teles... A rapaziada que eu lia quando ainda estava no colégio, cujos exemplares do Caderno C ainda guardava em uma das caixas de acúmulo em casa. Não só eles: Alexandre Figueirôa, Mário Hélio, Héber Fonseca, Celso Marconi.

Eu já publicava algumas matérias tanto no C quanto no Viver, do Diario de Pernambuco, ainda como estudante, com sede de ver meu material no papel. A primeira no C foi essa aí, "A difícil arte de ser um músico alternativo", em 23 de agosto de 1994, sobre os músicos independentes que gravaram discos entre 1973 e 1994. Foram praticamente 18 anos de muita informação. Esta é a palavra que engloba tudo. Informação. Detalhar aqui os fatos e sentimentos só tornaria este texto mais enfadonho.

A última matéria, como a vida não perde a oportunidade de me ironizar, foi essa outra aí, "Fé acima de tudo e de todos" (sic), de 7 de janeiro de 2016, sobre Spotlight: Segredos Revelados, um filme sobre jornalismo investigativo feito à moda antiga. Quatro dias depois, saí do JC.

Aí, de repente, fui surpreendido, na última segunda-feira, com a notícia de que no dia seguinte não existiria mais o Caderno C. Não com este nome. E, da mesma forma quando saí do jornal, não consegui pensar em nada. Apenas sentir. E tenho acompanhando um pouco os depoimentos daqueles que viveram alguns desses momentos comigo. E me sensibilizo. E me solidarizo com todos. Mas a vida é isso mesmo: transformação.

Em duas décadas em Redação já vi cadernos acabarem e serem retomados, pessoas irem embora e voltarem anos depois. E se não retornarem, nem eles e nem elas, o que nos faz viver é o
horizonte.

Em janeiro, o que eu não sabia dizer ainda - por isso usei apenas imagens do mar para tentar expressar o que sentia - era que talvez aquele sonho de antes de fazer jornalismo estivesse mais próximo do que eu imaginava, acrescido de outros tantos projetos que minha mente não para de pensar. Ou não. A vida já me pregou muita peça. Estou pronto para outras mais.

Recife, 6 de abril de 2016

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