terça-feira, setembro 05, 2006

Sobre a negligência internacional


As notícias internacionais de hoje dão conta de dois dos diversos países que sofrem com a total ou parcial negligência da comunidade internacional: o Haiti e a Somália. No Haiti (cuja missão de paz da ONU é liderada pelo Brasil, que teve um comandante morto por suicídio), um levantamento independente revelou que em dois anos 32 mil mulheres e crianças foram estupradas na capital daquele país, Porto Príncipe. A vítima mais nova, segundo os dados chocantes, tinha seis anos de idade. Na Somália, as notícias caminham em sentido contrário, embora isso não torne a situação muito menos tensa: o governo interino e a União das Cortes Islâmicas (aliança islâmica rival que controla a capital, Mogadício, e a maior parte do sul do país) concordaram em formar um exército nacional. Estes filmes são velhas reprises das sessões da tarde na TV. Lembro quando comecei a colecionar selos em meados dos anos 80 e li sobre a Tchecoslováquia e a Iugoslávia, e de como fiquei encantado por aqueles países (acima, foto da Iugoslávia). A partir do início dos anos 90, a mesma Iugoslávia vivenciou um conflito que praticamente destruiu um país de arquitetura histórica e belíssima. A comunidade internacional assistiu de longe. Há dois anos, quando eu trabalhava no setor Brasil/Internacional, via dezenas de matérias sobre a destruição do Sudão, com rios de sangue derramados por massacres consecutivos. A comunidade internacional, mais uma vez, só acompanhou, sem tomar medidas eficazes. Afinal, onde não há recursos naturais como petróleo, por exemplo, não vale a pena o investimento bélico, como ocorre no Afeganistão e Iraque, sob a fortuita justificativa do combate ao terror. Estamos a poucos dias de lembrar os cinco anos do 11 de Setembro. É bom refletir sobre isso. Quantas pessoas morreram nos atentados insanos às Torres Gêmeas? Três mil e poucas? Muitas delas estrangeiras, já que Nova Iorque é a cidade mais cosmopolita do mundo. Sim. E quantas pessoas morreram na Iugoslávia, Somália, Haiti, Sudão, Ruanda, Iraque, Líbano e Timor Leste ante a negligência da ONU? Temos muito mais mortos para chorar, pode acreditar.

Sobre novos endorsers


E a música pernambucana vai colecionando novos endorsers, que são aqueles músicos patrocinados por fabricantes de instrumentos musicais e que, em troca, além de ajudar a divulgar a marca, colabora no desenvolvimento de instrumentos cada vez mais competitivos nos mercado, sobretudo com os concorrentes estrangeiros. Depois do guitarrista garanhunhense Marcos Cabral, novo endorser da Condor, este mesmo fabricante anuncia que o também guitarrista (e violonista e violeiro) Fred Andrade passa a ter um instrumento signature (com sua assinatura, baseado em sua contribuição). É a guitarra Condor JC160 Angel Fred Andrade (esta da foto acima). E não fica por aí.
O set de trombones da cada vez mais respeitada SpokFrevo Orquestra tem nome próprio e atende por A Trombonada. Como se não bastasse, o quarteto - que já é patrocinado pela Weril via Spok Frevo - conseguiu apoio do fabricante para seu "quinto elemento"1, que completa A Trombonada. A trupe realiza, de sexta a domingo que vem, um grande encontro de trombonistas do Estado. O encerramento, aberto ao público, ocorre no Teatro Santa Isabel, dia 10-9-2006, com quase 100 trombonistas no palco.
Para encerrar, acabo de receber do gaitista carioca Jefferson Gonçalves um e-mail confirmando o patrocíno da Hering Harmonicas para Jehovah da Gaita. O pernambucano passa a integrar um seleto time que já conta com nomes como Mauricio Einhorn, Gabriel Grossi, Peter Madcat, Stan Harper e o próprio Jefferson, que tem sua gaita signature. Acredite, tudo isso significa para a música pernambucana mais do que muita gente pode imaginar.

Estirado

Levou um tiro.
Levou um tiro e ficou ali,
estirado no chão,
por entre as pernas das putas
da Praça da Independência


Inverno de 1998, Agosto


Violão de Choro (Pra Seu Neco)


Em julho passado fez 10 anos que meu velho partiu para aquela roda de choro lá em cima. Quinta-feira, que é feriado, ele deve estar tocando com Nino, José, Pedro, Onofre e toda aquela turma que costumava animar as tardes de domingo do Engenho do Meio ou do Alto Santa Isabel. A ele, dedico este poema escrito seis meses antes de sua partida (a foto, segundo está escrito atrás, é de 29 de junho de 1968, no Engenho do Meio; meu pai é quem segura o banjo no meio).


Violão de choro


Desde pequeno
tenho procurado aprender
a ouvir chorinho
Ah, os choros do meu pai!
Choros que meu irmão também aprendeu.
Meu pai, bandolim, banjo e cavaquinho;
meu irmão, só cavaquinho.
Nem pai, nem irmão, violão;
eu, violão
Mas não violão de chorinho.
Violão de chorinho é a alma,
é o consolo.
O bandolim, o banjo e o cavaquinho,
estes esperneiam,
reclamam,
clamam,
amam.
Violão de choro apenas consola,
se desdobra.
(De repente, até ama).
O bandolim, o banjo e o cavaquinho:
tan!-tan!/tan!-tan!/tan!...
E o violão de choro:
dam-dam-dam-dam/dum/dam-dam-dam
dum/dam-dam-dam.
Cardiovascular.
Sem contar a fôrma
que faz a canção -
dizem até
que Deus fez o homem do barro,
e a mulher, do violão
(de choro).


Verão de 1996, 23 de janeiro

Sobre as intenções


Chegou por aqui o terceiro CD da dupla Dany & Diego, A Paixão Me Pegou (Indie Records). É aquela mistura de sertanejo com forró regada a clima de rodeio (ou vaquejada, dependendo da localização geográfica). No Nordeste passa por forró; no Centro-Oeste é trilha para rodeiro e até no Sul se confunde com a melodia dos pampas; no Sudeste vale tudo. Uma fórmula que Daniel e mais recentemente Leonardo investem com relativo sucesso. E a ecleticidade da dupla não fica por aí. A lista de 16 canções traz títulos como Aqui só tem filé, Hoje vou chutá o pau da barraca, Nós enrola, mas num casa e Tá derramando mulher. No verso do CD, logo abaixo, os agradecimentos fazem a redenção: "A Deus, Jesus Cristo, Maria Santíssima e a todas as forças divinas que nos ilumina (sic); (...) Deus abençoe a todos!". É justo.

segunda-feira, setembro 04, 2006

Sobre a próxima vítima

Primeiro foi o ativista americano Timothy Treadwell (1957-2003), documentado no longa-metragem O Homem-Urso (Grizzly Man, 2005), de Werner Herzog. Achava que lidar com ursos selvagens era que nem brincar de bonequinhos quando criança e acabou (não só ele como a namorada) comido por um daqueles bichos gigantes do norte dos EUA.
Hoje, foi a vez do naturalista e apresentador de TV australiano Steve Irwin (1962-2006). Famoso por seus programas nos quais interagia com animais perigosos, como crocodilos, aranhas e cobras venenosas, Irwin estava participando de filmagens na Grande Barreira de Corais, no Nordeste da Austrália, quando foi aferroado por uma raia-prego e morreu antes de chegar ao hospital. Foi o segundo caso registrado de um australiano morto por raia (o outro foi em 1945). Coisa rara mesmo.
De acordo com matéria publicada no site BBCBrasil.com, Irwin teria sido atingido na região do peito do lado do coração e morrido de ataque cardíaco. Embora as raias tenham ferrões venenosos, especialistas acreditam que ele teria morrido por causa do ferimento, já que o ferrão pode provocar um corte de até 20 cm de profundidade (ou seja, dá pra atravessar um cara de estatura mediana, mesmo buchudinho).
Quem estiver com sua curiosidade mórbida a todo vapor, pode procurar pelo Irwin ainda vivo no canal pago Animal Planet.
E quem deve abrir o olho agora é o aventureiro animal do programa Domingo Espetacular (TV Record) Richard Rasmussem (esse aí da foto logo acima). Ele, que já mergulhou com piranhas e tirou onda com crocodilo, tarântula e até puxou jibóia pelo rabo, é o próximo na mira do serviço secreto dos animais. A Hora da Vingança, para lembrar George Jonas.

OUTRAS NOTÍCIAS CURIOSAS DO DIA - Banksy, "o artista do grafite" britânico atacou de novo. Com essa, eu morri de rir. Dessa vez, adulterou 500 cópias do primeiro álbum de Paris Hilton em 48 lojas de discos da Grã-Bretanha. Não soube o que havia gravado no CD. Só foi comentado que nenhum consumidor havia reclamado do CD ou devolvido a versão alterada do CD de Paris. Isso me deu uma grande idéia para lançar o CD da Lady Murphy. Já estou até imaginando nossos discos de ouro e de platina, he-he-he...

E, para fechar a lata, o fotógrafo britânico Justin Quinnell lançou um livro com as melhores fotos tiradas a partir de sua língua. Isso mesmo. Piercing com flash, obturador e filme! Pra quem se interessar, a publicação tem o título de Mouthpiece.

Sobre Coquetel e Móveis Coloniais


Valeu a pena ir ao festival No Ar: Coquetel Molotov 2006, no Centro de Convenções da UFPE. As críticas publicadas nos jornais locais foram coerentes: o evento cresceu e amadureceu, e prima por oferecer ao público do Recife uma programação com um perfil único na cidade e de ótima qualidade. Não poderia deixar de registrar isso. Meu intuito principal aqui, porém, é comentar o quanto foi bacana a apresentação da banda Móveis Coloniais de Acaju, do Distrito Federal, no último sábado.O grupo, com nove integrantes, é uma mistura de big band (ora jazz band) com muita música popular (e pop) brasileira e ska. Os músicos esbanjam tanta energia, correndo e pulando no palco o tempo inteiro, que até cansa um pouco o espectador. Mas vale a pena. Com um repertório firme, da composição à interpretação, a Móveis COloniais de Acaju já possui aura de banda grande (não só pela quantidade de músicos).