terça-feira, setembro 05, 2006

Violão de Choro (Pra Seu Neco)


Em julho passado fez 10 anos que meu velho partiu para aquela roda de choro lá em cima. Quinta-feira, que é feriado, ele deve estar tocando com Nino, José, Pedro, Onofre e toda aquela turma que costumava animar as tardes de domingo do Engenho do Meio ou do Alto Santa Isabel. A ele, dedico este poema escrito seis meses antes de sua partida (a foto, segundo está escrito atrás, é de 29 de junho de 1968, no Engenho do Meio; meu pai é quem segura o banjo no meio).


Violão de choro


Desde pequeno
tenho procurado aprender
a ouvir chorinho
Ah, os choros do meu pai!
Choros que meu irmão também aprendeu.
Meu pai, bandolim, banjo e cavaquinho;
meu irmão, só cavaquinho.
Nem pai, nem irmão, violão;
eu, violão
Mas não violão de chorinho.
Violão de chorinho é a alma,
é o consolo.
O bandolim, o banjo e o cavaquinho,
estes esperneiam,
reclamam,
clamam,
amam.
Violão de choro apenas consola,
se desdobra.
(De repente, até ama).
O bandolim, o banjo e o cavaquinho:
tan!-tan!/tan!-tan!/tan!...
E o violão de choro:
dam-dam-dam-dam/dum/dam-dam-dam
dum/dam-dam-dam.
Cardiovascular.
Sem contar a fôrma
que faz a canção -
dizem até
que Deus fez o homem do barro,
e a mulher, do violão
(de choro).


Verão de 1996, 23 de janeiro

3 comentários:

Mandrey disse...

Elegi, há muito, o choro como gênero musical preferido. Xará, o emocionante poema somado ao título perfeito e ao belo registro fotográfico histórico transbordam sensibilidade. Parabéns!

Mariana Mesquita disse...

Já tinha 'bizoiado' seu blog antes, mas essa ternura toda do poema me fez querer deixar um oi e meu abraço!

Anônimo disse...

É, caríssimo Antonio Marcos. É daí que vem essa tua verve admirável de músico que, como eu, teima em ser jornalista, acho que pra poder sobreviver nessa terra em que ser músico - antes de ser algo lírico -é um desafio ao preconceito. Desafio que teu velho deve ter encarado de frente... E de "banjo".

Abraço.