sexta-feira, dezembro 15, 2006

Sobre o nosso Sotaque

No último dia 5 de dezembro houve o lançamento do CD Engasga Gato, do Trio Sotaque (leia-se: o guitarrista Luciano Magno, o tecladista Fábio Valois e o percussionista Raimundo Batista), no Teatro Santa Isabel (Recife). O grupo, que aproveitou para gravar o primeiro DVD da carreira, comprovou que está na vanguarda da música instrumental brasileira - que tem em Pernambuco um dos principais pólos.
Abaixo, posto na íntegra o texto que fiz para o encarte do CD:



"No futuro, se a música instrumental pernambucana for devidamente estudada, será possível verificar que um dos períodos mais férteis foi este início de século 21. E, dentre um conjunto de obras-primas com fortes características autorais, certamente figurará este álbum
Engasga Gato, que marca a estréia dos músicos Luciano Magno (violões e guitarras), Fábio Valois (teclados) e Raimundo Batista (pandeiro) como o Trio Sotaque.
A história do grupo é muito recente, contudo, o talento individual de cada artista contribuiu para uma profusão de idéias, oportunidades e realizações, e ainda um amadurecimento tão rápido, cujo resultado – o CD – por si apenas não consegue exprimir. É preciso contar.
Baiano radicado no Recife, Luciano Magno é um dos guitarristas mais conceituados de Pernambuco, sempre requisitado para shows e gravações de artistas consagrados. Lançou seu primeiro CD solo em 2000 e, quatro anos depois, firmou uma parceria com o pianista Fábio Valois, outro artista experiente do Estado, que também já tocou com grandes nomes da música nacional. Dessa união, surgiu
Sotaque (2004), álbum de música brasileira – com foco especial nos ritmos nordestinos – e de grande influência do jazz, gênero marcante na formação musical da dupla.
Em 2005, Luciano e Fábio convocaram o experiente percussionista Raimundo Batista como convidado especial no projeto. O entrosamento ocorreu de modo tão satisfatório que Raimundo foi integrado e, juntos, os três artistas passaram a desenvolver o esboço deste disco, que surge como um passo largo na carreira do grupo.
Engasga Gato foi curtido à base de paciência e muita experimentação, testado em shows no Estado, pelo Brasil e em países da América do Sul e da Europa. O laboratório nos palcos mundo afora deu origem a um trabalho equilibrado, no qual os músicos voltam a expressar virtuosismo em seis temas próprios e quatro releituras personalíssimas de obras definitivas. Um disco que, ao mesmo tempo que oferece bom gosto e primor de execução para o público mais conhecedor e exigente, também fornece um material mais acessível para aqueles que querem apenas se deliciar ao som de uma boa música.
Excelentes arranjadores que são, os músicos conseguem dar uma unidade incrível a um repertório tão diversificado, que conta com o
Choro Cigano, de Luciano & Fábio, dividindo espaço com o baião Qui Nem Jiló, de Luiz Gonzaga & Humberto Teixeira, o frevo-de-bloco Valores do Passado, de Edgard Moraes, o choro Noites Cariocas, de Jacob do Bandolim, e o arrasta-pé meio de embolada de Forró do Camarão, do mestre sanfoneiro Camarão.
Engasga Gato – a música que dá título ao álbum –, tem aquele piano da tradição de Capiba e Nelson Ferreira, e uma guitarra que mais parece inspirada no cavaquinho de Waldir Azevedo ou no bandolim de Jacob. O pandeiro, seguro, traz em si uma tradição que está na iminência de completar um século. De Exu Pra Lá, de Luciano, e Dengoso e Arisco, de Luciano & Fábio, têm uma característica própria de quem faz música instrumental em Pernambuco. Não importa a idade, são meninos amantes do jazz e da erudição, mas que se esbaldam como brincantes quando exploram as influências e possibilidades regionais.
Com se não bastasse, há ainda outro choro,
Seu Tenório, parceria de Luciano com Luiz Tenório, que requereu uma interpretação clássica do gênero, e o samba Encantador, também do guitarrista, cujo título não poderia ser outro.
O CD, como um todo, é antes de tudo a prova de que o Sotaque aprendeu muito bem com os mentores que o antecederam e agora é o trio que faz escola".

domingo, outubro 08, 2006

Sobre nomes de bandas


O pessoal daqui do Recife sempre teve uma criatividade, digamos, peculiar para escolher nome de banda. Me ocorreu falar nisso depois que eu soube que integrantes do grupo Meus 15 Anos... que Corpo Lindo! formaram uma outra banda chamada Casas Populares da BR-232. Que inspiração, hein? He-he-he...
Eu não posso nem falar muito, pois, os dois projetos com os quais me envolvi, um se chamava Púbis de Pelúcia (era punk e o nome foi sugestão do meu amigo George "Dino" Teixeira) e o outro, que existe até hoje, é a Lady Murphy (www.ladymurphyrecife.blogspot.com) - nome que bolei há dez anos e que só foi colocado em prática há seis. Infelizmente, andou sendo copiado por aí afora, daí nossa comunidade no Orkut ter o título Lady Murphy - A Original.
Mas tudo isso é fichinha frente a alguns nomes tão doidos quanto bacanas que rolam ou já pintaram na cidade. Alguns, a gente até se acostumou que nem parece tão maluco, como Chico Science & Nação Zumbi, Grêmio Recreativo Bonsucesso Samba Clube e Ave Sangria. Outros, ficaram na história.
Como não lembrar de Jorge Cabeleira e o Dia em que Seremos Todos Inúteis? Bem, quando eu tiver mais tempo, faço um upgrade aqui neste blog. Porém, mexendo em meu arquivo muito vivo, encontrei o cartaz de um grupo que dificilmente alguém vai lembrar: Os Magrocorpos de Dona Bia. Não lembro quem fazia parte, nem quando a banda surgiu ou acabou. Só sei que foi lá por meados dos anos 90, na época em que Rogério ainda vendia mais vinil do que CD na Disco de Ouro e eu ia a vários shows na Soparia, no Pina, e no Mercado Eufrásio Barbosa e no Poco Loco Pub, em Olinda.

sexta-feira, outubro 06, 2006

Sobre o perigo do "almoço caseiro"


Pego de surpresa por uma conjuntivite transmitida por virus, passei os últimos três dias de molho - na verdade, fiquei trabalhando em casa, como os leitores do JC puderam acompanhar. Eu estava até me sentindo bem, logo depois que fui medicado, mas o médico me disse que havia o risco de eu contagiar o pessoal no trabalho. Por isso, fui afastado.
No segundo dia, eu fiz meu próprio almoço. Hoje, para ganhar tempo, comprei um almoço caseiro em um restaurante próximo de casa, crente de que iria desfurtar de uma comidinha simples, porém, mais gostosa.Qual foi minha surpresa, perto do fim da refeição, que encontrei um inseto de quase 2 cm de comprimento (este aí na foto).
É claro que eu liguei pro restaurante e é óbvio que eles nem se sensibilizaram. Vou levar o inseto lá, pelo menos pra sacramentar meu sentimento de revolta.
De qualquer maneira, evitem comer no Bar do Júnior, na Torre, para não passar por situações desagradáveis como esta.

terça-feira, setembro 05, 2006

Sobre a negligência internacional


As notícias internacionais de hoje dão conta de dois dos diversos países que sofrem com a total ou parcial negligência da comunidade internacional: o Haiti e a Somália. No Haiti (cuja missão de paz da ONU é liderada pelo Brasil, que teve um comandante morto por suicídio), um levantamento independente revelou que em dois anos 32 mil mulheres e crianças foram estupradas na capital daquele país, Porto Príncipe. A vítima mais nova, segundo os dados chocantes, tinha seis anos de idade. Na Somália, as notícias caminham em sentido contrário, embora isso não torne a situação muito menos tensa: o governo interino e a União das Cortes Islâmicas (aliança islâmica rival que controla a capital, Mogadício, e a maior parte do sul do país) concordaram em formar um exército nacional. Estes filmes são velhas reprises das sessões da tarde na TV. Lembro quando comecei a colecionar selos em meados dos anos 80 e li sobre a Tchecoslováquia e a Iugoslávia, e de como fiquei encantado por aqueles países (acima, foto da Iugoslávia). A partir do início dos anos 90, a mesma Iugoslávia vivenciou um conflito que praticamente destruiu um país de arquitetura histórica e belíssima. A comunidade internacional assistiu de longe. Há dois anos, quando eu trabalhava no setor Brasil/Internacional, via dezenas de matérias sobre a destruição do Sudão, com rios de sangue derramados por massacres consecutivos. A comunidade internacional, mais uma vez, só acompanhou, sem tomar medidas eficazes. Afinal, onde não há recursos naturais como petróleo, por exemplo, não vale a pena o investimento bélico, como ocorre no Afeganistão e Iraque, sob a fortuita justificativa do combate ao terror. Estamos a poucos dias de lembrar os cinco anos do 11 de Setembro. É bom refletir sobre isso. Quantas pessoas morreram nos atentados insanos às Torres Gêmeas? Três mil e poucas? Muitas delas estrangeiras, já que Nova Iorque é a cidade mais cosmopolita do mundo. Sim. E quantas pessoas morreram na Iugoslávia, Somália, Haiti, Sudão, Ruanda, Iraque, Líbano e Timor Leste ante a negligência da ONU? Temos muito mais mortos para chorar, pode acreditar.

Sobre novos endorsers


E a música pernambucana vai colecionando novos endorsers, que são aqueles músicos patrocinados por fabricantes de instrumentos musicais e que, em troca, além de ajudar a divulgar a marca, colabora no desenvolvimento de instrumentos cada vez mais competitivos nos mercado, sobretudo com os concorrentes estrangeiros. Depois do guitarrista garanhunhense Marcos Cabral, novo endorser da Condor, este mesmo fabricante anuncia que o também guitarrista (e violonista e violeiro) Fred Andrade passa a ter um instrumento signature (com sua assinatura, baseado em sua contribuição). É a guitarra Condor JC160 Angel Fred Andrade (esta da foto acima). E não fica por aí.
O set de trombones da cada vez mais respeitada SpokFrevo Orquestra tem nome próprio e atende por A Trombonada. Como se não bastasse, o quarteto - que já é patrocinado pela Weril via Spok Frevo - conseguiu apoio do fabricante para seu "quinto elemento"1, que completa A Trombonada. A trupe realiza, de sexta a domingo que vem, um grande encontro de trombonistas do Estado. O encerramento, aberto ao público, ocorre no Teatro Santa Isabel, dia 10-9-2006, com quase 100 trombonistas no palco.
Para encerrar, acabo de receber do gaitista carioca Jefferson Gonçalves um e-mail confirmando o patrocíno da Hering Harmonicas para Jehovah da Gaita. O pernambucano passa a integrar um seleto time que já conta com nomes como Mauricio Einhorn, Gabriel Grossi, Peter Madcat, Stan Harper e o próprio Jefferson, que tem sua gaita signature. Acredite, tudo isso significa para a música pernambucana mais do que muita gente pode imaginar.

Estirado

Levou um tiro.
Levou um tiro e ficou ali,
estirado no chão,
por entre as pernas das putas
da Praça da Independência


Inverno de 1998, Agosto


Violão de Choro (Pra Seu Neco)


Em julho passado fez 10 anos que meu velho partiu para aquela roda de choro lá em cima. Quinta-feira, que é feriado, ele deve estar tocando com Nino, José, Pedro, Onofre e toda aquela turma que costumava animar as tardes de domingo do Engenho do Meio ou do Alto Santa Isabel. A ele, dedico este poema escrito seis meses antes de sua partida (a foto, segundo está escrito atrás, é de 29 de junho de 1968, no Engenho do Meio; meu pai é quem segura o banjo no meio).


Violão de choro


Desde pequeno
tenho procurado aprender
a ouvir chorinho
Ah, os choros do meu pai!
Choros que meu irmão também aprendeu.
Meu pai, bandolim, banjo e cavaquinho;
meu irmão, só cavaquinho.
Nem pai, nem irmão, violão;
eu, violão
Mas não violão de chorinho.
Violão de chorinho é a alma,
é o consolo.
O bandolim, o banjo e o cavaquinho,
estes esperneiam,
reclamam,
clamam,
amam.
Violão de choro apenas consola,
se desdobra.
(De repente, até ama).
O bandolim, o banjo e o cavaquinho:
tan!-tan!/tan!-tan!/tan!...
E o violão de choro:
dam-dam-dam-dam/dum/dam-dam-dam
dum/dam-dam-dam.
Cardiovascular.
Sem contar a fôrma
que faz a canção -
dizem até
que Deus fez o homem do barro,
e a mulher, do violão
(de choro).


Verão de 1996, 23 de janeiro

Sobre as intenções


Chegou por aqui o terceiro CD da dupla Dany & Diego, A Paixão Me Pegou (Indie Records). É aquela mistura de sertanejo com forró regada a clima de rodeio (ou vaquejada, dependendo da localização geográfica). No Nordeste passa por forró; no Centro-Oeste é trilha para rodeiro e até no Sul se confunde com a melodia dos pampas; no Sudeste vale tudo. Uma fórmula que Daniel e mais recentemente Leonardo investem com relativo sucesso. E a ecleticidade da dupla não fica por aí. A lista de 16 canções traz títulos como Aqui só tem filé, Hoje vou chutá o pau da barraca, Nós enrola, mas num casa e Tá derramando mulher. No verso do CD, logo abaixo, os agradecimentos fazem a redenção: "A Deus, Jesus Cristo, Maria Santíssima e a todas as forças divinas que nos ilumina (sic); (...) Deus abençoe a todos!". É justo.

segunda-feira, setembro 04, 2006

Sobre a próxima vítima

Primeiro foi o ativista americano Timothy Treadwell (1957-2003), documentado no longa-metragem O Homem-Urso (Grizzly Man, 2005), de Werner Herzog. Achava que lidar com ursos selvagens era que nem brincar de bonequinhos quando criança e acabou (não só ele como a namorada) comido por um daqueles bichos gigantes do norte dos EUA.
Hoje, foi a vez do naturalista e apresentador de TV australiano Steve Irwin (1962-2006). Famoso por seus programas nos quais interagia com animais perigosos, como crocodilos, aranhas e cobras venenosas, Irwin estava participando de filmagens na Grande Barreira de Corais, no Nordeste da Austrália, quando foi aferroado por uma raia-prego e morreu antes de chegar ao hospital. Foi o segundo caso registrado de um australiano morto por raia (o outro foi em 1945). Coisa rara mesmo.
De acordo com matéria publicada no site BBCBrasil.com, Irwin teria sido atingido na região do peito do lado do coração e morrido de ataque cardíaco. Embora as raias tenham ferrões venenosos, especialistas acreditam que ele teria morrido por causa do ferimento, já que o ferrão pode provocar um corte de até 20 cm de profundidade (ou seja, dá pra atravessar um cara de estatura mediana, mesmo buchudinho).
Quem estiver com sua curiosidade mórbida a todo vapor, pode procurar pelo Irwin ainda vivo no canal pago Animal Planet.
E quem deve abrir o olho agora é o aventureiro animal do programa Domingo Espetacular (TV Record) Richard Rasmussem (esse aí da foto logo acima). Ele, que já mergulhou com piranhas e tirou onda com crocodilo, tarântula e até puxou jibóia pelo rabo, é o próximo na mira do serviço secreto dos animais. A Hora da Vingança, para lembrar George Jonas.

OUTRAS NOTÍCIAS CURIOSAS DO DIA - Banksy, "o artista do grafite" britânico atacou de novo. Com essa, eu morri de rir. Dessa vez, adulterou 500 cópias do primeiro álbum de Paris Hilton em 48 lojas de discos da Grã-Bretanha. Não soube o que havia gravado no CD. Só foi comentado que nenhum consumidor havia reclamado do CD ou devolvido a versão alterada do CD de Paris. Isso me deu uma grande idéia para lançar o CD da Lady Murphy. Já estou até imaginando nossos discos de ouro e de platina, he-he-he...

E, para fechar a lata, o fotógrafo britânico Justin Quinnell lançou um livro com as melhores fotos tiradas a partir de sua língua. Isso mesmo. Piercing com flash, obturador e filme! Pra quem se interessar, a publicação tem o título de Mouthpiece.

Sobre Coquetel e Móveis Coloniais


Valeu a pena ir ao festival No Ar: Coquetel Molotov 2006, no Centro de Convenções da UFPE. As críticas publicadas nos jornais locais foram coerentes: o evento cresceu e amadureceu, e prima por oferecer ao público do Recife uma programação com um perfil único na cidade e de ótima qualidade. Não poderia deixar de registrar isso. Meu intuito principal aqui, porém, é comentar o quanto foi bacana a apresentação da banda Móveis Coloniais de Acaju, do Distrito Federal, no último sábado.O grupo, com nove integrantes, é uma mistura de big band (ora jazz band) com muita música popular (e pop) brasileira e ska. Os músicos esbanjam tanta energia, correndo e pulando no palco o tempo inteiro, que até cansa um pouco o espectador. Mas vale a pena. Com um repertório firme, da composição à interpretação, a Móveis COloniais de Acaju já possui aura de banda grande (não só pela quantidade de músicos).

domingo, agosto 20, 2006

Meu Anjo

Fiquei tanto tempo, ali, olhando o Sol nascer, que só dei por mim quando, ao subir a maré, a primeira onda tocou meus dedos descalços. Até então, não vira uma alma sequer na Praia de Iracema.
Caminhava de volta para a pousada quando vi aquela figura ali, sentada, contando conchas na areia. O impacto foi tão grande que me senti como se despertasse de um sono profundo e acabasse de ver um anjo descansando.
Tereza ali estava, cabelos cacheados esvoaçantes, toda de branco, semicurvada, como se buscasse relaxar o peso das asas. Cheguei o mais perto que pude, até meu olhar vislumbrar um quadro: ao fundo, céu e mar se encontravam; em primeiro plano, Tereza descansava.

(Este texto é um exercício que fiz em minha segunda aula na Oficina de Criação Literária do escritor Raimundo Carrero, no último dia 19)

sábado, agosto 19, 2006

Sobre a estréia

Finalmente, arrumei um tempinho para criar meu blog.
Aqui, você encontrará algumas das minhas idéias - exercícios literários, impressões sobre o acontece pelo mundo afora e conteúdo que sobra de meu trabalho como jornalista.
Grande abraço,
Marcos