segunda-feira, junho 20, 2016

Esportes: uma ideologia (ou A busca pelo equilíbrio)



"Não espere nada do centro
se a periferia está morta"
Fred 04

Quando comecei a rascunhar este post ontem dei o título provisório "Futebol: uma ideologia". Queria me ater apenas ao futebol, pela fase que vivemos, de Brasileirão, Copa América Centenário, Eurocopa. Mas eis que na virada da noite chega o fato novo: os Cleveland Cavaliers, os Cavs, são campeões da NBA e, sob o comando de LeBron "King" James levam para Ohio o primeiro título nacional de uma das grandes ligas do esporte americano.

Eu nunca havia prestado atenção, mas Cleveland, como o próprio James mencionou em uma de suas entrevistas após a vitória sobre os Golden State Warriors (da Califórnia), é uma cidade do Nordeste de Ohio. O próprio Ohio fica ali na Região dos Grandes Lagos, no Meio-Oeste americano, região que não raro é citada em diálogos nos filmes como se fosse o fim do mundo, colado com o Estado da Pensilvânia, este já no Nordeste americano.

Uma vitória de tal calibre, da forma como ocorreu, em sete partidas, a última empatada até quase o final, traz a tão sonhada redenção para James - que havia deixado seu Ohio natal, após seis temporadas no Cleveland, para faturar dois títulos da NBA com o Miami Heat (2011/2012 e 2012/2013) e retornado em 2014 perdendo a final do ano passado para os mesmos Warriors. E realiza um sonho para Cleveland e para Ohio. O título dos Cavs coroa uma reflexão que venho tendo há tempos e que ficou mais acentuada este último fim de semana.

De volta ao futebol, no início deste mês eu twittei que se o Brasileirão acabasse no dia 8, Santa Cruz, Vitória-BA, Sport, Bahia e Náutico estariam na Série A. "Bora equilibrar essa bagaça!", convoquei. Hoje, 12 dias depois, teríamos Santa Cruz, Vitória-BA, Atlético-GO, CRB e Náutico. Em 2015 só tínhamos Sport e Goiás (que foi rebaixado) entre equipes fora das Regiões Sul e Sudeste. Ainda é muito pouco, se observarmos que o único clube da Região Norte capaz de brigar por uma vaga na Série A de 2017 é o Paysandu, o Papão, apenas décimo-quarto colocado na Série B atualmente.

No que diz respeito à supremacia dos times tradicionais brasileiros, os mais fortes, mais ricos ou com maior poder de barganha, nada mudou nos últimos anos. Porém, não apenas o futebol, mas o esporte, em sua natureza, parece querer brigar por um maior equilíbrio.

Veja o caso do Atlético de Madrid, por exemplo, que consegue ser competitivo em torneios espanhóis e europeus encarando clubes como Barcelona, Real Madrid, Bayern de Munique e Paris Saint-Germain com suas respectivas estrelas milionárias.

Na atual Eurocopa, vimos seleções como a da Albânia fazer seu primeiro gol na história da competição e bater a Romênia; País de Gales se impor frente à Inglaterra, mesmo perdendo no finalzinho; a Polônia segurar bravamente um zero a zero com a poderosa Alemanha (aquela, que deu de 7 a 1 no Brasil na Copa do Mundo de 2014). E a Islândia? Empate de 1 a 1 com Portugal e com a Hungria. Empates com sabor de goleada.


Na atual Copa América Centenário, a mesma tendência. Brasil e Uruguai foram eliminados melancolicamente na fase de grupos; a Venezuela botou quente e avançou, assim como o Peru (ambos agora já fora). E o Chile, que teve seu dia germânico e deu uma saraivada de 7 a 0 para cima do México, pode vir a disputar seu segundo título seguido na competição.

A Ásia parece ser a bola da vez. Depois do Japão, especialmente a China (aí, acredito, com mais intenções econômicas) tentar ganhar mais espaço no cenário do futebol mundial. Além de investir pesado em jogadores veteranos com salários milionários, eu soube ontem que está comprando centros de treinamento no Brasil para formar jogadores em bases locais para levá-los ainda imberbes, como faz o Barcelona há muito anos.

O esporte no mundo, o futebol mais notadamente, caminha para reverter diferenças técnicas. Se houve muitas mudanças nas últimas décadas, os próximos anos prometem trazer modificações mais rápidas e mais profundas. Tudo isso aponta para novas tendências sociais, culturais, econômicas e políticas. Os próximos Jogos Olímpicos serão outra boa oportunidade para observamos se essas transformações também tendem a ocorrer em outras modalidades. Aguardemos.

Em tempo: A vitória na garra do Sport ontem sobre o Fluminense e o fato de eu haver assistido na última semana, finalmente, ao filme Febre de Bola (Fever Pitch, UK, 1986), que narra uma vitória histórica do time do Arsenal da Inglaterra, também colaboraram com esta reflexão.

terça-feira, junho 07, 2016

Dica: Upgrade nas "revistinhas"



Noite dessas peguei o violão pra desenferrujar um pouco e me debrucei sobre as "revistinhas" de cifras e acordes pra desanuviar a mente. Nessas horas o mais difícil é parar. Foi quando, lá pelas tantas, apanhei um livro que é uma espécie de upgrade nessas tais "revistinhas": Aquarela Brasileira: Vol. 1, de Beth Cançado.

Para quem não conhece, a publicação, da Editora Corte, traz "letras de 310 músicas populares brasileiras e internacionais cifradas para violão". O adendo internacional é caracterizado por canções que têm alguma relação com o repertório do música brasileira.

Aquarela Brasileira tem como principal mérito fazer um resumo dos highlights da MPB colocando-o disponível para quem já o conhece e, como eu, diverte-se até sozinho "filando" uma "musiquinhas" ao violão. E é ainda didático para pessoas das novas gerações que se interessem por música de boa qualidade.

Outro detalhe que chama a atenção é que no rodapé de cada tema cifrado há o estilo da canção, os compositores e a editora em que estão registrados os direitos autorais. É um trabalho que valoriza o compositor. Não há, por exemplo, o(s) intertérprete(s) mais famosos.

Esse primeiro volume, com mais de 400 páginas, editado pela primeira vez em 1994, traz temas que ficaram famosos com Chico Buarque, Cartola, Gonzaguinha, Nelson Gonçalves, Luiz Gonzaga, João Gilberto, Milton Nascimento, Cauby Peixoto, Roberto Carlos, Elis Regina, Paulinho da Viola, Wando, João Bosco, Zé Kéti e Adoniran Barbosa, entre muitos outros. A maioria traz acordes simplificados, nada rebuscados.

Aí, cá estou eu pensando em escrever algumas linhas sobre a publicação, quando procuro uma foto para publicar e busco saber quantos volumes já saíram. Segundo o site da editora, já são oito livros. Dá para fazer uma brincadeira, não dá? Assim que eu puder vou completar minha coleção.

É uma ótima oportunidade também para quem ficou órfão das "revistinhas" de bancas de jornal. Há quem diga: "Mas tem tudo na internet". É verdade. Mas esses títulos são a garantia de um material já impresso, com encadernação em capa dura, e de ótima qualidade tanto no aspecto físico quanto de conteúdo.

Confira o site da coleção e a lista completa das canções dos oito volumes. E divirta-se!

segunda-feira, junho 06, 2016

Profissionais precisam de respeito e oportunidade


Na transmissão do jogo # 2 das Finais da NBA, temporada 2015-2016, muito se falou de como a equipe do Golden State Warriors abrigou jogadores complicados ou em situação difícil, para muitos rotulados como losers, e como este jogadores hoje ajudam e formar um time campeão. Um case para usar como reflexão.

Antes de tudo, um parêntese. Em meio a isso, lembrei-me do time do Sport Club do Recife, sobretudo o da temporada 2016, montado por Eduardo Baptista. Sem grana para grandes contratações, Eduardo formou uma equipe com o refugo de grandes equipes. Assim aportaram no Leão da Ilha jogadores como Marlone (ex-Vasco da Gama, Cruzeiro e Fluminense), André (ex-Santos, Dínamo de Kiev, Atlético-MG e Vasco) e Diego Souza (ex-seleção brasileira - principal, sub-23, sub-20 e sub-17 -, Fluminense, Benfica, Flamengo, Grêmio, Atlético-MG, Vasco e Cruzeiro, entre outros), os dois últimos tidos como problemáticos por onde passaram. O que vimos foi um time forte, sexto colocado no Brasileirão 2015 e com André em terceiro lugar na artilharia do campeonato.

O Golden State, guardada as devidas proporções, segue uma linha semelhante. Espécie de ONG, abrigo ou reformatório da NBA, formou um time apostando em um aspirante a grande ídolo da NBA, Stephen Curry, mas como muito refugo da liga, inclusive veteranos. Coloque aí na lista: Draymond Green, 35ª escolha no draft de 2012; e Shaun Livinston, atleta que já havia passado pelas equipes dos Los Angeles Clippers, Miami Heat, Tulsa 66ers, Oklahoma City Thunder, Charlotte Bobcats, Milwaukee Bucks, Washington Wizards, Cleveland Cavaliers e Brooklyn Nets. E, para nós brasileiros, duas particularidades: Leandro Barbosa, o Leandrinho (ex-Palmeiras, Bauru, Phoenix Suns, Toronto Raptors, Flamengo, Indiana Pacers, Boston Celtics e Pinheiros), e Anderson Varejão (ex-Franca, Barcelona e Cleveland Cavaliers).

O caso de Varejão é bem interessante. Na NBA, jogou pelos Cavs de 2004 a 2016, mas nunca ganhou um título. Nas finais de 2014-2015, estava se recuperando de lesão. Acabou sendo preterido pelos Cavs e envolvido numa troca entre os Cavaliers, Orlando Magic e Portland Trail Blazers, sendo adquirido por Portland e dispensado no mesmo dia, e, três dias depois, sendo contratado pelos Warriors.

Todos os jogadores de Golden State têm importância nessa fase vitoriosa da equipe. Entre os supracitados, Draymond Green virou ídolo e tem surpreendido com sua versatilidade e eficácia. Shaun Livinston idem no quesito resultados. Leandrinho e Varejão, quando acionados do banco, têm entrado e contribuído substancialmente no resultado. Leandrinho, que já foi campeão na temporada passada, entrou nos dois primeiros jogais das Finais 2015-2016 marcando 11 e 10 pontos, respectivamente, e errando apenas um arremesso de 3 pontos. Foi aplaudido de pé quando deixou a quadra no último domingo, quando os Warriors colocaram 2 a 0 sobre os Cavs na série final desta temporada.

Assim Golden State vai fazendo história na NBA na contramão daquelas instituições que não respeitam os profissionais mais experientes e não são capazes de dar uma nova chance para os ditos complicados, mas que ainda demonstram talento. E qual seria a fórmula do sucesso? Em parte, a iniciativa, de estender a mão, de dar a oportunidade. Mas, sobretudo, o pensamento e o trabalho que vem de cima, de uma gestão que sabe se reinventar rompendo os preconceitos. Que sirva de exemplo.


quinta-feira, junho 02, 2016

Kevin Durant, Russell Westbook, Diego Souza e Edmilson



Já disse aqui que acompanho esportes desde criancinha, pratiquei algumas modalidades. Nesse quesito, modéstia à parte, considero-me leigo premium. E devo ser mesmo, leigo. Nunca entendi, por exemplo, no basquete, por que um time não joga com a faca nos dentes na defesa, ou por que um jogador prefere forçar uma cesta de três e cometer um erro em vez de garantir dois pontinhos mais tranquilos.

No futebol, mais recentemente, assistindo aos jogos do Sport Club do Recife, eu percebia que as jogadas mais criativas, que resultavam em perigo de gol, eram as que o time inteiro servia para Diego Souza. Mas eram poucas. Na maior parte do tempo, os demais jogadores insistiam nas tais jogadas forçadas que culminam no erro.

Indignado, estava eu pronto para escrever sobre isso dias atrás quando, na quarta rodada do
Brasileirão, o Leão enfrenta o Corinthians, na Ilha do Retiro, num domingo de manhã, escalando o criticado Edmilson no ataque. E logo em sua estreia, o jogador baiano, que passou pelo futebol paulista e japonês, entre outros, mostra a que veio: bola servida por Diego Souza e chute na trave. No jogo seguinte, contra o arquirrival (e celebrado) Santa Cruz, mais uma assistência de Diego para Edmilson que culmina no único gol da partida, na quebra de jejum de vitórias do rubro-negro e na consagração de Edmilson.


Imediatamente lembrei-me da dupla Russell Westbook e Kevin Durant, do aguerrido Oklahoma City Thunder, do basquete da NBA. Se você tem dois jogadores talentosos e com potencial para definir em seu time, jogue pros caras. Não tem outra, man. O Sport, como um todo, tem que ter essa consciência. E a consciência de que esporte coletivo não se vence sozinho e nem com fórmulas milagrosas.


Recife, 2 de junho de 2016

Das pequenas felicidades da vida - eu, Roger e Pete



Esta noite eu sonhei que estava deitado na rede, de costas para a tevê, quando ouço alguém tocando uma música do The Who (Substitute, talvez). Acho a voz muito parecida com a de Roger Daltrey e a guitarra semelhante à de Pete Towhshend. Ao me virar, constato que são eles mesmos, tocando no Classic Hall, em Olinda. Levanto-me, pego o carro e saio correndo a ponto de ainda pegar o show. Corte.

Depois, coisas que só os sonhos proporcionam (o cinema, tenho certeza, mais do que na fotografia ou no teatro, inspirou-se nos sonhos), vejo-me em algum barzinho no Sítio Histórico de Olinda, onde Roger e Pete fazem uma jam session. O baterista é João Eduardo, da Má Companhia (e que já tocou comigo na Lady Murphy). João toca com seu jeito peculiar, concentrado, olhos fechados, com a cabeça meio virada pro lado, batendo forte, mas com técnica.

Após a jam, vou falar com Pete. Tento expressar minha emoção de vê-los ali, meu inglês insiste em não querer ser pronunciado. Mas Pete me tranquiliza, diz que entendeu, aperta minha mão. Roger fica na dele, lá no canto, arruma algumas coisas. Acordo.

Só então percebo o quanto esse show marcado para outubro, em Coachella (EUA), o chamado Festival do Século, que vai reunir The Rolling Stones, Bob Dylan, Paul McCartney, Neil Young, Roger Waters e The Who (e que pode vir ao Brasil em 2017), mexeu com meu imaginário. Mas, mesmo que eu não tenha condições de comparecer a qualquer uma das apresentações, pelo menos o The Who já vi bem de pertinho, falei com os caras. E que vivam os sonhos!

Recife, 2 de junho de 2016