sábado, maio 16, 2009

Trinta

Dino tinha a própria tragédia grega. Era amado com intensidade por uma mulher com quem não conseguia mais se relacionar, e ansiava por uma relação com uma outra que não lhe correspondia com a mesma intensidade. Tudo lhe fazia acreditar que o romance com Freja não deslanchara por ele haver largado Frigga.
Naquele dia ele queria sair de casa. Só não sabia se pela porta da frente ou pela janela de seu apartamento no trigésimo andar. Pensou em como pagara caro para colocar telas de segurança em todas as janelas e dormiu até o corpo não suportar mais a ressaca de sono. Acordou, levantou da cama, tomou um banho e trocou de roupa. Depois, comeu uma barra de cereal já resolvido a sair pela porta da frente.
Os dias não seriam mais como antes. Teria que se acostumar. O que estava feito, estava feito. Não havia por que retomar o contato com Frigga. Quanto a Freja, independia de sua vontade.
Enquanto caminhava em direção ao metrô que lhe levaria para a faculdade onde cursava o mestrado, nada parecia lhe tirar daquele transe existencial. O asfalto seco, o Sol escaldante, barulho de buzinas e o burburinho das pessoas na rua pareciam distantes. Bem diferente de meses atrás, quando decidira largar Frigga. Por onde passava, os sinais de trânsito se abriam de forma seqüenciada enquanto flores vibrantes pipocavam em ambos os lados da calçada.
No cruzamento antes da estação, mais um sinal fechado. Pensando em suplantar a sensação causticante, começou a contar os veículos que passavam. Vinte e oito, vinte e nove, lá vem o trigésimo. É um ônibus. Por que não agora? Toca o telefone celular. É Verdandi. Sim, está combinado aquele cinema. Nos vemos à noite.