quinta-feira, maio 26, 2016

O táxi e o orelhão de ficha (ou motorista de táxi: uma profissão que se autossabotou)

Crônica de uma morte anunciada. Assim é a atual situação da profissão motorista de táxi. Pelo menos no Recife. E quem é o culpado? Ele mesmo, com a colaboração de praxe do sistema.

Lembro que quando comecei a andar de táxi, aquele laranjinha, a maioria dos motoristas eram donos de seus carros e prestavam o serviço diretamente ao cidadão, sem intermediários. Lembro de profissionais educados.

Com o passar do tempo, pessoas e empresas com poder econômico começaram a subjugar trabalhadores com as famigeradas rendas. Como funciona: uma pessoa que precisa de trabalho dirige o táxi de outrem. No fim de cada dia, precisa devolver o carro junto com um valor acima de R$ 100, mais tanque cheio. O que sobrar é seu sustento e de sua família. Não há capacitação. Não raro não há educação, nem um serviço bem prestado. As autoridades corroboram para isso.

Se eu quiser ser taxista hoje preciso comprar uma "praça" (a autorização) de outro taxista e pagar mais de R$ 100 mil (há 20 anos custava cerca de R$ 12 mil e já era um absurdo). Isso fora o carro! Qual seria o correto? A prefeitura, responsável pelo sistema, manter um cadastro e uma lista de espera. Depois, cobrar uma taxa administrativa, como faz o Detran. A isso tudo temos somado o estrangulamento do serviço em momentos de pico, como hora do rush, Carnaval e réveillon.

Nesse cenário chegam ao Recife serviços como o Über e similares. A tecnologia a favor do cidadão. E o que acontece? Taxistas revoltados agem com violência contra os cidadãos que apenas querem um bom serviço. Quer saber? O que está faltando no Recife é Über de ônibus, de metrô.

Uma profissão que não se renova, que não presta um bom serviço, acaba assim. E ainda existe o inevitável. Se fôssemos nos apegar a serviços e tecnologias ultrapassadas, ainda seríamos todos dependentes do orelhão de ficha.

Recife, 10 de abril de 2016

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